Sudão do Sul

08-02-2011 08:11

"Bem vindo à mais jovem nação africana", já se lê num gigantesco cartaz em Juba, a capital do Sudão do Sul, que ontem viu oficializado o esmagador resultado a favor da secessão do Norte no referendo para a autodeterminação realizado entre 9 e 15 de Janeiro. O Sudão do Sul, será um dos mais pobres do mundo e com infraestrutura praticamente inexistente.

À noite, nas ruas de Juba --capital da região--, os geradores são a diferença entre a luz e a escuridão. Por toda parte, velas iluminam as empoeiradas mesas de plástico dos comércios da cidade.

Enquanto isso, o cheiro de comida que sai dos casebres de lata se mistura ao odor de excremento e putrefação que toma conta das suas ruas.

Esta imagem se repete por todas as partes e, sem dúvida, "Juba é o que há de mais desenvolvido no sul do Sudão", como afirma um membro da ONU.

Mais de 40 anos de guerra civil entre o exército sudanês e o local SPLA (Exército de Libertação do Povo Sudanês) deixou 2 milhões de mortos e outros tantos desabrigados.

Do tamanho de Minas Gerais e com 8,5 milhões de habitantes, o sul negro e cristão se sente colonizado pelo norte árabe. O Sudão, maior país da África, deve perder 25% de sua área.

Hoje, cinco anos após o acordo que pavimentou o caminho para o voto, 85% da população do sul ainda vive abaixo da linha de pobreza e mais da metade depende de assistência alimentícia.

De acordo com a organização Médicos Sem Fronteiras, 1 em cada 4 sudaneses do sul tem alguma assistência de caráter médico.

E 1 em cada 7 grávidas morre por problemas relacionados à gestação. "Por mais que a guerra tenha terminado, a situação não melhorou", afirma um membro do MSF.

INFRAESTRUTURA

Nesta região, onde 92% das mulheres não sabem ler nem escrever, também não há eletricidade.

O fornecimento de água é administrado por empresas privadas, por meio de caminhões tanque, que percorrem a cidade enchendo reservatórios particulares.

Sem dúvida, mais da metade da população não tem acesso à água potável.

A mobilidade é outra das carências do sul do Sudão. Fora de Juba --que conta com meia dúzia de ruas pavimentadas-- não há mais que estradas de terra, o que dificulta o trabalho das ONGs que atendem os povoados.

A única fonte de receita é o petróleo, e por isso teme-se que o norte não respeite o resultado, caso a opção seja mesmo pela independência.

Antes do nascimento oficial do novo país - que ainda não tem um nome oficial, mas provavelmente será chamado Sudão do Sul - a 9 de Julho, os dois lados ainda têm de negociar uma série de assuntos pendentes, nomeadamente a situação do enclave de Abyei, a região onde se concentra a produção petrolífera, e que é disputada por Norte e Sul, ou o regime de partilha da bacia hidrográfica do Nilo.

 

retirado de: Jornal Público e Folha de São Paulo